O Restaurante do Povo está completando nesta segunda-feira (09), um ano de atividades. A parceria entre a Prefeitura de Campos e o Estado para funcionamento do espaço vai muito além da política pública de segurança alimentar, já que não está restrito somente a servir comida. Ingrediente especial é acrescentado no cardápio: a humanização no acolhimento, que contribui para a socialização e o desenvolvimento humano.
Além de ofertar o café da manhã, almoço e jantar todos os sete dias da semana, os colaboradores que atuam no Restaurante do Povo não ficam limitados apenas a cumprir suas atividades de assear o ambiente e servir o café da manhã – café com leite, pão com manteiga -, além do almoço e jantar – feijão, arroz, carnes, legumes, frutas, água mineral e sucos.
O ingrediente especial acrescentado está no acolhimento humanizado para com as pessoas em situação de rua, desempregados e trabalhadores informais que se valem das 1.500 refeições servidas de domingo a domingo.
Os funcionários que servem os usuários no Restaurante do Povo acolhem cada pessoa com olhar fraterno, empatia, compreensão, paciência e tolerância. Essas e outras demonstrações no atendimento expressam amor ao próximo e fazem com que o equipamento público extrapole o benefício da função da segurança alimentar, contribuindo para mudar maus hábitos, desenvolver consciências e bons sentimentos.
“Conhecemos e passamos a compreender cada usuário. Inicialmente, o propósito seria atender às pessoas em situação de rua, por conta da situação difícil que a fome impunha a essas pessoas na pandemia. Mas o fechamento de empresas resultou em altas taxas de desemprego e passamos a atender muita gente desempregada, com demanda crescente. Entendemos que as pessoas em situação de rua têm muitos problemas de ordem emocional e psicológica e, inclusive, sofrem de desvios de comportamento quanto aos hábitos de higiene, por exemplo”, informa Verônica Ribeiro Cesário, funcionária do Restaurante, que atua no serviço de apoio aos usuários.
AÇOES DA PREFEITURA E VOLUNTÁRIA DOS FUNCIONÁRIOS
“Nós, colaboradores, fazemos coleta de doações de roupas e materiais de higiene, como sabonete, sabão, escova de dentes e creme dental. Com tato, conquistamos a confiança dessas pessoas carentes de afeto, compreensão e de amor. Eles aceitam cortar o cabelo, tomar banho, trocar de roupas e, além de mudar de comportamento, deixando maus hábitos, até se permitem criar vínculos de amizade. Equipes da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social contribuem com atividades de cortes de cabelo e outras ações. A Secretaria de Saúde coleta sangue para exames. Esse trabalho social fazemos de forma voluntária e essa troca é muito gratificante”, salienta Verônica.
MUDANÇA DE HÁBITOS
Alguns usuários que, durante a fila para entrar no Restaurante Popular provocavam confusões e sujeiras na calçada, resmungavam quando eram advertidos sobre esses atos. Hoje, esses mesmos, enquanto aguardam a abertura dos portões, atuam voluntariamente, conscientizando os que ainda não alcançaram a mesma consciência.
A mudança no comportamento social e a evolução não ocorre apenas pelo alimento que é servido, mas pela forma como as pessoas são acolhidas e compreendidas. Além disso, pessoas certas no lugar certo, gente que gosta de gente, pessoas competentes para lidar com o público, pessoas com perfil humanitário. Essas e outras expressões cabem para adjetivar os profissionais que atuam no dia a dia no Restaurante do Povo.
DEPOIMENTOS DE USUÁRIOS
“Estou desempregado e vivo de fazer bicos, quando surgem. Minha mulher cadeirante não pode trabalhar e por causa da dificuldade financeira, estamos almoçando e jantando aqui todos os dias. O restaurante é muito bom. A comida é boa, o atendimento é bom e tudo muito bem organizado”, opinou Bruno dos Santos, enquanto ajeitava a cadeira de rodas da sua esposa, Tailana Alves Coutinho, à mesa para a refeição, composta de feijão preto, arroz, farofa, carne assada, legumes, suco de laranja com beterraba, copo de água mineral e laranja de sobremesa.
“Estou desempregada e sou mãe de dois filhos pequenos. Venho almoçar aqui todos os dias e trago esse menorzinho de colo – um ano de idade. Ele come comigo e gosta do suco e das frutas que são servidas aqui. Tudo aqui é bom. O pessoal trata da gente muito bem. Gosto daqui”, afirmou Vitória Dilma do Nascimento.
“Não posso trabalhar devido a problemas de saúde e estou sem renda. Por conta da pandemia, o INSS atrasa as marcações de perícias e a concessão dos benefícios. Estou sem poder trabalhar e sem renda. O restaurante aqui é muito bom e ajuda muito, porque a comida está muito cara e como a comida aqui é boa e de graça e é uma força para ajudar a quem está com orçamento apertado”, declarou Edilson Flor de Carvalho.
“Sou vendedor de água de coco e frequentador desde o Restaurante Popular criado na época da Prefeita Rosinha. Quando fechou, muita gente que morava no interior e trabalhava aqui na cidade teve que parar de trabalhar, porque não compensava pagar passagem e pagar comida em restaurante. Eu pagava R$ 1 e isso sempre me ajudou. Voltei a almoçar e jantar aqui desde o ano passado, quando reabriu e é um projeto que ajuda muita gente a viver sem fome e comer com dignidade, sem discriminação. Aqui come o morador de rua e come o comerciário, o camelô e o vendedor ambulante como eu. Muito bom e que nunca acabe”, defende o vendedor de água de coco, Célio Maia Tomás, 70 anos.
LOGÍSTICA PARA SERVIR 1.500 REFEIÇÕES/DIA GERA 40 EMPREGOS
Produzir 500 copos de café, cortar e passar manteiga em 500 pães, selecionar e lavar 500 frutas pela manhã, 500 frutas na hora do almoço e 500 frutas no jantar; cozinhar – feijão, arroz, legumes, carnes – e selecionar e lavar verduras para 500 quentinhas e cozinhar feijão, legumes e carnes para preparar caldos suculentos para jantar de 500 pessoas. Embalar e acondicionar em equipamentos adequados e transportar em caminhões-baú apropriados até o Restaurante do Povo.
Para repetir essa rotina, três vezes durante o dia, são necessárias 40 pessoas. O trabalho é feito com esmero, acompanhado por nutricionista, que além de definir o menu de forma diversificada, acompanha a entrega do alimento gratuitamente, conforme explica o gerente operacional da empresa que produz os alimentos, Dielson Rodrigues de Oliveira Neto.
“Toda produção é elaborada na cozinha industrial da empresa, com acompanhamento de nutricionista e transportamos em caminhões baú fechados até aqui. Chegamos com o café da manhã às 6h30 e às 7h é servido. Na hora do almoço chegamos às 11h30 e é servido a partir do meio dia e no final da tarde chegamos com a janta às 16h30 e é servida às 17h. Aqui também a distribuição dos alimentos, sucos e frutas é feita com a supervisão de nutricionista”, relata Dielson Neto.
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